STF: punição sem proporcionalidade
Durante a conversa, o ex-presidente fez duras críticas ao sistema penitenciário brasileiro, classificando as prisões como “escolas do crime” e denunciando a forma desproporcional e desumana com que o STF tratou pessoas que participaram dos protestos. Ele destacou que muitos dos detidos não tinham antecedentes criminais, mas mesmo assim foram enviados para penitenciárias como a Papuda e a Colmeia, sem qualquer risco concreto à sociedade.
Na visão de Sarney — e de boa parte dos juristas independentes —, as prisões preventivas determinadas pelo STF extrapolaram os limites do bom senso e ignoraram princípios fundamentais como a presunção de inocência, o devido processo legal e a individualização da pena.
“Juízes de primeira instância jamais fariam o que foi feito com esses brasileiros”, afirmou Sarney.
Segundo ele, muitos poderiam responder em liberdade sem qualquer prejuízo ao processo, o que mostra uma falta de sensibilidade da Suprema Corte diante da realidade do sistema carcerário.
Crítica à arrogância do Supremo
O ex-presidente alertou ainda para o risco da concentração de poder excessiva nas mãos de um pequeno grupo de ministros que atuam com arrogância e se recusam a enxergar a realidade do sistema prisional. Para ele, o STF demonstra insensibilidade social e desprezo pela situação das prisões brasileiras, que já operam em colapso há anos.
A fala de Sarney reforça uma preocupação crescente entre os que defendem a democracia e a separação dos poderes: o Supremo tem ultrapassado seu papel constitucional e atuado como um superpoder, anulando o equilíbrio institucional.
Divergência dentro do governo
Em contraste com Sarney, o atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou em entrevistas que os ataques de 8 de janeiro representaram uma tentativa de golpe. Essa divergência expõe o racha dentro do próprio governo, que tenta sustentar uma narrativa unificada, mas não consegue esconder os conflitos internos e os exageros cometidos em nome da suposta “defesa da democracia”.
Uma crítica lúcida em meio ao autoritarismo
Em um Brasil cada vez mais polarizado e submetido a um ativismo judicial desenfreado, a voz de Sarney surge como um sinal de alerta vindo de dentro do próprio sistema. Ele, que jamais poderia ser acusado de ligação com o bolsonarismo, faz uma crítica corajosa e fundamentada ao Supremo Tribunal Federal, ao sistema penal brasileiro e à manipulação narrativa em torno dos fatos do 8 de janeiro.
As declarações de Sarney evidenciam que o cerco contra opositores políticos, mascarado de justiça, tem limites que não podem ser ultrapassados sem comprometer o Estado de Direito. E mais: expõem que a verdadeira ameaça à democracia talvez esteja justamente no autoritarismo daqueles que dizem defendê-la.